sexta-feira, 28 de março de 2014

Sobre medos e perigos


Ontem passamos por umas barraquinhas de comida de rua bem similares com os podrões do Rio só que com comida indiana. Os amigos pararam em uma barraquinha e pediram algo que era feito com grão de bico. Eu não como podrão na Lapa, comida de rua aqui me parece bem mortal, parecia gostoso mas eu não tive coragem de provar. Mais na frente passamos por uma barraca de caldo de cana onde me ofereceram PURE SUGAR CANE VERY FRESH AND PURE. Sobre caldo de cana, eu só consigo lembrar do meu clinico geral dizendo NAO TOME CALDO DE CANA EM HIPÓTESE NENHUMA A DOENÇA DE CHAGAS RONDA A ÍNDIA. Disse pra Neha que não gostava de caldo de cana e fomos embora.

Essa situação de me oferecerem algo que me foi orientado como absolutamente mortal tem me acontecido direto, qualquer loja ou casa que entramos as pessoas nos oferecem chá ou água, é um gesto gentil e aqui é muito quente e seco, dá vontade de aceitar, mas morro de medo de me fazer mal. Geralmente saio da situação dizendo que não quero, que estou bem muito obrigada, mas as vezes é meio chato.
Em casa por exemplo, eu só bebo água engarrafada, a Neha tem tipo um galão que ela enche em algum lugar que ela chama de água purificada. A água da bica estava fazendo mal a ela por isso passou a comprar esse galão, mas o galão tem uma cara muito suja, o Carlos foi no lugar que enchem o galão e disse que é trevas, apesar disso ele toma essa água e não passa mal. Aqui já passamos por vários lugares em que vemos pessoas tirando água como de um poço, naquele esquema de bombear a água pra cima com uma alavanca de madeira manual. Tenho medo dessa água purificada do galão ser de um lugar assim, é uma água sem tratamento, que pelo que eu entendo vem direto do lençol freático. Acho que pode ser limpo mas tem um risco grande de ser água contaminada, depende do que tiver no solo.

Essa água do galão que a Neha e o Carlos usam pra beber, eu fervo e uso para escovar o dente. Acho que eles ainda não me viram escovando o dente, mas ela já me perguntou porque que eu fervo tanta água. Outro dia transformei a água que eu ia escovar os dentes em chá pra disfarçar. Fui orientada a não escovar os dentes com a água da bica por dois médicos diferentes, ambos bem enfáticos.
Eu fico pensando se alguém, um americano por exemplo, chega no Rio de Janeiro com mil informações sobre doenças no Brasil, todo panicado, e ferve a água do filtro de barro da minha casa pra escovar os dentes. Eu acharia ele muito ridículo. E em algum lugar, bem desrespeitoso também, pois considera que a água que eu tomo não é boa pra ele e está suja. É péssimo. 
Ainda assim, a água é a principal coisa que eu fui orientada a não consumir, me sinto meio ridícula mas prefiro não correr risco de passar mal por aqui. Sobre a comida de rua, o Carlos passou mal, foi melhor não ter comido mesmo.

2 comentários:

  1. Você não encontra umas pastilhas de cloro pra botar na água? É algo super simples e mata os bichinhos. Tem algumas, menores, que acho que dá pra colocar direto na própria garrafinha e pra lavar os alimentos. E chá não tem problema, é fervido.

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    Respostas
    1. To escovando o dente com água da pia essa semana, sobrevivi! Não tive nada.
      É sempre um exercício de descobrir o limite se as coisas aqui são perigosas mesmo ou se é uma paranóia do Ocidente.

      As pastilhas de cloro eu procurei por aqui, não encontrei não. Mas tenho agora em casa um purificador de água, desses de parede, está funcionando, todo mundo na casa está bem.

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