Passei
mais tempo em trânsito em Mumbai do que fazendo qualquer outra coisa, acho
interessante porque fala sobre a cidade, atualmente Mumbai tem 18 milhões de
habitantes, em trânsito.
Metade
de Mumbai é servida por taxi e a outra metade por rickshaw, pelo que me
explicaram o governo dividiu em duas áreas porque os motoristas de taxi e
tuktuk brigavam muito, então pra evitar confusão a cidade foi dividida, na
parte dos tuktuks só tem tuktuk e na parte dos taxis só tem taxi. Mumbai foi o
único lugar da India que eu peguei tuktuks e taxis com taxímetro, eu nem estava mais contando com isso. Descobri que o tuktuk custa 10 rúpias o quilometro no
taxímetro, só consegui pensar nos outros tuktuks que eu peguei pela India e que
foram bem mais do que era pra ser, primeiro que eu peguei foi em Delhi e custou
400 rúpias por 7 quilômetros... Geralmente os rickshaws ficam com o taxímetro
desligado e só topam corridas com preço combinado, e como na maioria das vezes
você não faz a menor idea da distância e dos valores, você acaba pagando muito
mais do que devia. Eu geralmente pesquiso a distância pra ter uma ideia e
pergunto na recepção do hotel quanto deve custar de tal lugar a tal lugar, eles
me dizem o preço que os locais pagam, que é sempre mais barato do que o preço
que o motorista me oferece, mas ainda assim mais caro do que seria o preço no
taxímetro. Significa que até os locais pagam mais do que deviam. Sai de Mumbai
mal acostumada, fico puta com o preço que eles oferecem agora que eu sei o
valor real. Por sorte agora to em Hampi, dá pra fazer tudo a pé por aqui.
taxi |
Transporte
em Mumbai é muito interessante, depois que aprendi a usar ficou muito prático (
na medida do possível). A cidade é enorme então tudo dá trabalho, ainda mais na
chuva, mas dá pra se virar. Acho muito legal saber/conseguir se virar em
cidades grandes.
O
trem é como a Super Via no Rio, é um trem que conecta os subúrbios ao centro da
cidade, ele tem 3 vagões destinados as mulheres, o primeiro, o último e um no
meio. Os vagões são divididos em geral e primeira classe, no primeiro dia compramos ticket para a geral
mas foi impossível entrar no vagão, o
trem parecia um formigueiro humano, muito lotado, mulher se empurrado, gente
correndo, a visão do inferno, pior que isso só os carros masculinos. E as
portas do trem não fecham, então as pessoas entram até ficarem penduradas pra
fora da porta, é surreal. Depois de ver essa cena voltamos na bilheteria e
compramos tickets para a primeira classe, é o mesmo vagão que a geral, bancos
quebrados, paredes cheias de anúncios, mesma coisa, mas custa 10 vezes o preço
da geral (de 10 rupias pra 100 rupias), então é mais vazio, tem até lugar pra
sentar. Na volta tentamos a geral novamente, pegamos em uma estação distante
então a entrada foi vazia, conseguimos lugar pra sentar. Sair do vagão foi meio
difícil, muito lotado de mulheres se empurrando, um espaço tão apertado que não
dava nem pra se mexer, tinha que seguir o movimento do fluxo. Por sorte esse
foi o único dia que pegamos o trem assim, todos os outros dias estava cheio mas
tranquilo, habitável, não sei o que aconteceu nesse primeiro dia, foi Mumbai
querendo assustar.
O trem tem uma dinâmica muito interessante, as
mulheres que estão em pé ficam perguntando pras que estão sentadas em que ponto
elas vão saltar, e ai quando acham alguém que vai saltar próximo, combinam de
sentar no lugar delas quando saírem. Achei ótimo porque quando eu entro num
ônibus lotado no Rio tenho vontade de fazer exatamente isso, perguntar pra quem
tá sentado quando eles vão sair que ai eu já fico perto da cadeira da pessoa
pra quando ela sair eu sentar. O banco do trem cabe 3 pessoas mas sempre tem 4
sentadas, a quarta fica de lado bem apertada e as 3 ficam meio esmagadas, mas
quatro sentam. Quando só tem 3 sentadas as que estão em pé cutucam as que estão
sentadas para elas se apertarem e abrirem espaço pra quarta sentar, é muito
engraçado, parece muito grosseiro mas ninguém se incomoda porque funciona assim
mesmo.
No
trem entram pessoas vendendo esmaltes, acessórios de cabelo, pastinhas
plásticas e outras coisas consideradas ‘de mulher’. Acontece no mesmo estilo
dos vendedores de bala nos ônibus cariocas, é um gancho cheio de coisa
pendurada que eles passam oferecendo.
Também
vi no trem travestis, usando sari, maquiadas, unha feita, elas passam pedindo
dinheiro e encostando na cabeça das pessoas como que em benção. É curiosíssimo,
conversando com uma amiga indiana uma vez ela me disse que “gays bring good
luck to people”, ela me disse inclusive que famílias levam seus bebês para
serem encostados por gays para dar sorte aos seus bebês, muito louco. Quando vi as travestis
lembrei disso que ela me disse, no carro das mulheres muita gente deu dinheiro
pras travestis, mais de uma vez eu vi isso, e elas passam tocando a cabeça de
todo mundo. E quando entram crianças ou gente mutilada pedindo dinheiro ninguém
presta muita atenção, mas para as travestis todo mundo deu dinheiro. Peguei o
carro compartilhado uma vez só, muitos homens e quase nenhuma mulher, e as
mulheres que estavam no vagão estavam acompanhadas de seus maridos. Quando as
travestis entraram no carro dos homens eles olharam pra janela, tentam ignorar,
e uns dão dinheiro. Muito muito curioso, morri de vontade de pegar o contato de
todas as travestis que eu vi e começar um documentário com elas. Se a vida das
mulheres aqui é difícil, não consigo nem imaginar como deve ser a das
travestis.