sábado, 26 de julho de 2014

Transporte em Mumbai



Passei mais tempo em trânsito em Mumbai do que fazendo qualquer outra coisa, acho interessante porque fala sobre a cidade, atualmente Mumbai tem 18 milhões de habitantes, em trânsito.

Metade de Mumbai é servida por taxi e a outra metade por rickshaw, pelo que me explicaram o governo dividiu em duas áreas porque os motoristas de taxi e tuktuk brigavam muito, então pra evitar confusão a cidade foi dividida, na parte dos tuktuks só tem tuktuk e na parte dos taxis só tem taxi. Mumbai foi o único lugar da India que eu peguei tuktuks e taxis com taxímetro, eu nem estava mais contando com isso. Descobri que o tuktuk custa 10 rúpias o quilometro no taxímetro, só consegui pensar nos outros tuktuks que eu peguei pela India e que foram bem mais do que era pra ser, primeiro que eu peguei foi em Delhi e custou 400 rúpias por 7 quilômetros... Geralmente os rickshaws ficam com o taxímetro desligado e só topam corridas com preço combinado, e como na maioria das vezes você não faz a menor idea da distância e dos valores, você acaba pagando muito mais do que devia. Eu geralmente pesquiso a distância pra ter uma ideia e pergunto na recepção do hotel quanto deve custar de tal lugar a tal lugar, eles me dizem o preço que os locais pagam, que é sempre mais barato do que o preço que o motorista me oferece, mas ainda assim mais caro do que seria o preço no taxímetro. Significa que até os locais pagam mais do que deviam. Sai de Mumbai mal acostumada, fico puta com o preço que eles oferecem agora que eu sei o valor real. Por sorte agora to em Hampi, dá pra fazer tudo a pé por aqui.

taxi


Transporte em Mumbai é muito interessante, depois que aprendi a usar ficou muito prático ( na medida do possível). A cidade é enorme então tudo dá trabalho, ainda mais na chuva, mas dá pra se virar. Acho muito legal saber/conseguir se virar em cidades grandes.



O trem é como a Super Via no Rio, é um trem que conecta os subúrbios ao centro da cidade, ele tem 3 vagões destinados as mulheres, o primeiro, o último e um no meio. Os vagões são divididos em geral e primeira classe,  no primeiro dia compramos ticket para a geral mas foi impossível  entrar no vagão, o trem parecia um formigueiro humano, muito lotado, mulher se empurrado, gente correndo, a visão do inferno, pior que isso só os carros masculinos. E as portas do trem não fecham, então as pessoas entram até ficarem penduradas pra fora da porta, é surreal. Depois de ver essa cena voltamos na bilheteria e compramos tickets para a primeira classe, é o mesmo vagão que a geral, bancos quebrados, paredes cheias de anúncios, mesma coisa, mas custa 10 vezes o preço da geral (de 10 rupias pra 100 rupias), então é mais vazio, tem até lugar pra sentar. Na volta tentamos a geral novamente, pegamos em uma estação distante então a entrada foi vazia, conseguimos lugar pra sentar. Sair do vagão foi meio difícil, muito lotado de mulheres se empurrando, um espaço tão apertado que não dava nem pra se mexer, tinha que seguir o movimento do fluxo. Por sorte esse foi o único dia que pegamos o trem assim, todos os outros dias estava cheio mas tranquilo, habitável, não sei o que aconteceu nesse primeiro dia, foi Mumbai querendo assustar.

 O trem tem uma dinâmica muito interessante, as mulheres que estão em pé ficam perguntando pras que estão sentadas em que ponto elas vão saltar, e ai quando acham alguém que vai saltar próximo, combinam de sentar no lugar delas quando saírem. Achei ótimo porque quando eu entro num ônibus lotado no Rio tenho vontade de fazer exatamente isso, perguntar pra quem tá sentado quando eles vão sair que ai eu já fico perto da cadeira da pessoa pra quando ela sair eu sentar. O banco do trem cabe 3 pessoas mas sempre tem 4 sentadas, a quarta fica de lado bem apertada e as 3 ficam meio esmagadas, mas quatro sentam. Quando só tem 3 sentadas as que estão em pé cutucam as que estão sentadas para elas se apertarem e abrirem espaço pra quarta sentar, é muito engraçado, parece muito grosseiro mas ninguém se incomoda porque funciona assim mesmo.

No trem entram pessoas vendendo esmaltes, acessórios de cabelo, pastinhas plásticas e outras coisas consideradas ‘de mulher’. Acontece no mesmo estilo dos vendedores de bala nos ônibus cariocas, é um gancho cheio de coisa pendurada que eles passam oferecendo.



Também vi no trem travestis, usando sari, maquiadas, unha feita, elas passam pedindo dinheiro e encostando na cabeça das pessoas como que em benção. É curiosíssimo, conversando com uma amiga indiana uma vez ela me disse que “gays bring good luck to people”, ela me disse inclusive que famílias levam seus bebês para serem encostados por gays para dar sorte aos seus  bebês, muito louco. Quando vi as travestis lembrei disso que ela me disse, no carro das mulheres muita gente deu dinheiro pras travestis, mais de uma vez eu vi isso, e elas passam tocando a cabeça de todo mundo. E quando entram crianças ou gente mutilada pedindo dinheiro ninguém presta muita atenção, mas para as travestis todo mundo deu dinheiro. Peguei o carro compartilhado uma vez só, muitos homens e quase nenhuma mulher, e as mulheres que estavam no vagão estavam acompanhadas de seus maridos. Quando as travestis entraram no carro dos homens eles olharam pra janela, tentam ignorar, e uns dão dinheiro. Muito muito curioso, morri de vontade de pegar o contato de todas as travestis que eu vi e começar um documentário com elas. Se a vida das mulheres aqui é difícil, não consigo nem imaginar como deve ser a das travestis.


segunda-feira, 21 de julho de 2014

O Mar


Fui ver o mar em Mumbai essa semana, em uma área chamada Marine Drive. É como um calçadão a beira mar onde as pessoas vão passear, lembra um pouco o Aterro porque não tem areia, são pedras e o mar. Por causa das monções o mar está muito batido e o calçadão todo molhado e recebendo ondas. É o mar mais sujo que eu já vi na vida, as ondas batem nas pedras e espirram lixo em todo o calçadão, apesar disso muitos indianos passeiam por ali, uns sentam na borda do calçadão e se molham de roupa e tudo. O mar chove tanto lixo que tem um time de garis constantemente trabalhando pra limpar o calçadão, mas o mar nunca para, então tudo é muito sujo, e eles parecem estar secando gelo.

garis de capa de chuva e o lixo


É impressionante que as pessoas realmente vão passear lá, e não se importam em se molhar de uma água que tem mais plástico do que água. Tinha uma barraquinha de milho na rua, milho aqui é servido assado na brasa então barraquinha na verdade é uma moça sentada do chão com uma chapa cheia de brasas onde ela coloca o milho e vai girando pra ele assar. Pra proteger a comida ela abriu um guarda chuva no chão, de forma que ela e o milho se molhavam só um pouco. Sentado no calçadão recebendo aquele monte de água tinham casais comendo milho relaxados, levando uns sustos de vez em quando por causa das ondas altas. O mar é marrom e cheio de pedaços, do pouco que deu pra me aproximar vi um pneu de caminhão e muito lixo batido, aquela espuma constante cheia de coisas.

O cenário todo lembra o fim do mundo, se um dia eu fizer um filme sobre fim do mundo ele vai ser como Mumbai, é muito nublado com nuvens carregadas bem cinzas, algumas áreas com profundidade e outras só brancas muito densas, o céu parece baixo e tem muitos corvos e pombos sobrevoando todos os lugares.

tentativas de selfies a beira mar




quarta-feira, 9 de julho de 2014

Camel Safari

Essa semana fiz um safari de camelo pelo deserto! A proposta é bem turistona, mas foi super legal, saímos de Jaisalmer as 15h, fomos de jeep 50km pra dentro do Deserto do Thar (divide a India do Paquistão) e lá pegamos um camelo cada e fomos duas horas de camelo pra dentro do deserto, até encontrar as dunas de areia. As dunas são lindíssimas, era o deserto que eu estava querendo ver, estava na maior expectativa, aquela areia branca fininha formando desenhos ao vento. A maior parte do deserto aqui é com solo arenoso pedras e uns arbustos, mas depois de andar bastante chegamos na parte das dunas, é amarelo e fluido, muito bonito. Fiquei com muita vontade de visitar os lençóis maranhenses, deve ser o paraíso aquelas dunas com piscinas. 





Andar de camelo foi muito engraçado, o camelo quando levanta inclina muito pra frente, quase caí! E ele é muito alto, é daqueles bichos que parecem ter um tamanho mas quando você chega perto são muito maiores. Tenho essa sensação com cavalos também, sempre acho que eles são menores do que são realmente. Mas o camelo é ainda maior do que o cavalo, você tem que se segurar na frente e atrás pra não cair com o balanço, e começa confortável mas depois de duas horas a perna fica doendo muito de ficar naquela posição tanto tempo.





Fomos em um grupo de quatro garotas mais os dois guias mais o dono do hotel onde estamos hospedadas e onde agendamos o safari. Paramos no deserto as 18h pra ver o pôr do sol, montar acampamento e comer, os guias fazer tudo, botam os camelos pra descansar, a sela em que sentamos nos camelos se transformam em nossas camas, eles fazem jantar e até cantam musica depois do jantar. Os dois guias eram paquistaneses, mas falavam inglês, hindi, mavari (língua/dialeto do Rajastão) e paquistanês. Passamos umas duas horas depois do jantar cantando músicas com um tamborzinho e um prato, musicas da India, do Paquistão, eu descobri que eu sei cantar Trem das 11h inteirinha e as meninas da Catalunia cantaram Garota de Ipanema, entre outras músicas lindas.


Dormimos no deserto com camas montadas na areia, o deserto tem muitos besouros peloteiros daqueles que enrolam cocô, eles são enormes! Por sorte não incomodaram a gente durante a noite. Foi muito bom dormir ao ar livre mas é uma ventania de areia a noite toda, os guias dormiram dentro do jeep, o dono do hotel no topo do jeep e nós quatro no chão. Dormimos com a cara coberta a noite toda e o corpo todo coberto, ainda assim acordamos encharcadas de areia, e não dá pra tomar banho, o banheiro é na natureza, a mão fica suja, a cara fica cheia de areia, é daquelas coisas boas de fazer uma vez na vida pra saber como é que é. O céu do deserto a noite vale todo o perrengue com a areia, é escandaloso, a lua ilumina que nem um farol, dá pra ver tudo, faz até sombra de tanta luz, é muito lindo. Eu acordei no meio da noite a lua já não estava mais no céu e foi ainda mais incrível, dava pra ver a via láctea inteira, muito clara, cheia de estrelas, muito especial.



café da manhã

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Esses dias no Rajastão

Estou desde semana passada fazendo o Rajastão, um estado ao norte da Índia com tudo que tem de bom, camelo, elefante, deserto, todas as coisas que a gente vê sobre a Índia na TV são no Rajastão, é um estado lindo.

Comecei por Jaipur, a capital do estado. Jaipur é uma cidade grande e bem turística, os vendedores falam espanhol e reconhecem da onde os turistas são pela cara. Geralmente as pessoas me confundem com israelenses, mas as meninas da Catalúnia com quem estou viajando eles sempre acertam. Meu ponto favorito foi o Amber Fort, um forte gigante de 1592 com um lago, um palácio dentro e outro forte na montanha em frente, que são conectados por uma passagem metade subterrânea. Pra chegar no Amber Fort dá pra ir andando ou pegar um elefante (uns 20 min por 900 rupias, uma fortuna aqui). Os elefantes trabalham de 8 as 11h da manhã e de novo de 16h as 19h, eu infelizmente fui visitar o forte no intervalo que eles não estavam trabalhando e subi a pé. Mas deu pra ver eles, foi demais, elefante é um bicho enorme! Muito lindo de ver, e a espécie que eles tem aqui eu nunca tinha visto, é preto com a ponta do nariz e das orelhas rosas com pintinhas pretas, muito especial. 



A India tem muitos fortes e palácios, e especialmente o Rajastão tem ainda mais, por ser a terra dos marajás, antigos reis da região. O hotel que eu fiquei em Jaipur era decorado com reproduções dos autorretratos dos antigos marajás e em vários palácios se vê os quadros originais, têm um estilo interressantissimo, lembra um pouco arte egípcia pois seus corpos estão de frente mas a cabeça está de perfil. A família real dos marajás ainda existe, mas com a independência da Índia em 1947 esse sistema caiu.

Marajás na parede do Albert Hall Museum


 Minha segunda coisa favorita em Jaipur foi o cinema Raj Mandir, é um cinema art decó no meio da India, fui pra ver o prédio mais do que o filme, foi uma experiência muito legal. O cinema é todo azul bebê e rosa bebê, e as luzes são coloridas e mudam sozinhas, muito kitsch, e o formato do teto dá a impressão que você esta no fundo do mar, muito cafona e engraçado.

Salão de entrada do cinema

Sobre comidas, descobri no Rajastão o lassi, um iogurte que pode ser salgado ou doce ou batido com frutas ou batido com maconha (special lassi), e todos os restaurantes e lojinhas vendem. Em Jaipur tem uma loja chamada Lassi Walla, aberta desde 1944, a única coisa que eles vendem é lassi, vem num copo de barro, você para lá, toma e vai embora, não sei lugar pra sentar nem nada. É maravilhoso, o sweet lassi é o meu favorito, é um iogurte muito leve, com um doce suave, gelado, da pra tomar um monte. Tem umas 5 lojas chamadas Lassi Walla na cidade, acho que a India não tem lei contra plágio, aqui quando uma coisa da certo todo mundo abre uma loja igual. As duas lojas vizinhas ao Lassi Walla tem exatamente o mesmo nome, então tem que estar atento pra tomar o original. Agora estou em Jaisalmer, o sweet lassi aqui vem com cardamomo e castanha de caju misturado, também é bem gostoso, tem o gostoso das especiarias da Índia.

uma delicia

Jaisalmer é a cidade mais próxima do deserto, pra chegar aqui pegamos um sleeper bus de 10 horas. O sleeper bus é um ônibus com camas, tenho uma relação de amor e ódio com ele, pra viagens longas é mais confortável que cadeiras, porque você vai deitado, dá pra tirar uns cochilos. Mas é tão inseguro, e os motoristas a noite dirigem tão rápido, e chacoalha tanto, que eu viajo meio noiada. O primeiro que eu peguei foi em Bhilwara dois meses atrás, foi um terror, ele era supostamente um ônibus com ar condicionado, mas o ar estava quebrado e ônibus com ar são aqueles que a janela não abre então foi o inferno na terra, a cama parecia um caixão muito muito quente. Depois peguei um de Amritsar para Jaipur, 16 horas sem ar condicionado, a cama ficava no segundo andar do ônibus e a janela abria, foi uma viagem mais gostosa, com muito vento e vista linda a noite toda. Por outro lado, o motorista era um alucionado, acordei no meio da noite algumas vezes com o ônibus muito muito muito rápido, tensão. E agora essa semana peguei um sleeper de 10 horas de Pushkar até Jaisalmer, foi bom porque estava com as meninas, mas era um ônibus que já estava vindo de outra cidade, então foi desconfortável entrar nele, muito homem dentro do ônibus. Também mulheres e crianças pequenas, e até uma baby cabrinha, mas ainda assim, homem demais, todo mundo te encarando, meio esquisito.




Pushkar foi uma delicia, uma gracinha de cidade, minúscula, organizada em torno de um lago sagrado que segundo o Lonely Planet é onde foram jogadas as cinzas do Gandhi. A cidade não tem nada especial pra fazer tipo um ponto turístico, eu tenho preferido esse tipo de cidade, lugares que você vai passar uns dias e viver o clima de lá, sem aquela função turista de ver coisas. É muito gostoso e tranquilo. Ficamos em um hotel com uma vista incrível, e como estamos viajando fora de temporada, os preços estão baratissimos e os lugares vazios. Por outro lado, as monções estão chegando, daqui a pouco vai começar a chover. Hoje a noite vou pra Jodhpur, dessa vez de trem.


Pushkar, vista do hotel