segunda-feira, 24 de março de 2014

21/03/2014


Segundo dia na Índia. Hoje foi muito melhor que ontem, ainda assim está sendo muito difícil, to com saudades de casa e da minha família de um jeito que eu nunca esperava ficar. to com muito medo de ficar aqui, e com muita vontade de voltar pro rio, to com saudade da praia, do dois irmãos, de sair de biquíni no Leblon e ir tomar um chopp. To com mta saudade da nina. chega a noite aqui da muito medo, é tudo muito precário, tem muito mosquito, tenho medo de algum bicho me picar e eu não conseguir me curar, ou de alguém invadir a casa e me estuprar, é terrível. É bem desesperador. É uma cidade bem no interior, não tenho internet nem celular nem nenhum jeito de contactar minha mãe e meus amigos. Aqui não da nenhuma vontade de se matar, pelo contrário, da mto medo de morrer. Tem varias coisas que pioram muito a situação, tipo estar incomunicável. Aqui não se usa papel higiênico, e não tem água quente, então toda vez que eu faço xixi ou eu fico suja ou eu tomo banho gelado. Eles aqui usam um baldinho para se limpar, tem uma bica perto da privada, nada de chuveirinho. Na verdade se lavar é bem mais higiênico que se esfregar num papel, mas eu to sentindo mais falta de papel higiênico do que de comida por exemplo. De dia é mais tranquilo que é bem quente, da pra tomar banho na boa, mas a noite esfria pra caramba, é péssimo, ontem acordei no meio da noite pra fazer xixi e não sabia o que fazer, foi desesperador. E gasta-se todo esse tempo indo ao banheiro, quando ir ao banheiro sempre foi uma parada tão simples.  A casa tem dois banheiros, o banheiro do andar de baixo é como se fosse uma privada enfiada no chão, você fica de cócoras pra fazer suas necessidades. eu vi essa privada pela primeira vez no aeroporto de Delhi, o banheiro do aeroporto tinha varias cabines com privadas ocidentais e uma cabine com privada oriental como eles chamam, levei um susto quando vi e pensei HAHA QUE BIZARRO, cheguei na casa e tem essa privada. achei que fosse uma coisa super rara, só uma era assim no aeroporto, pensei que fosse só mais uma opção pra quem prefere, mas nas casas é realmente assim. do lado dessa privada tem aquela parada pequena de limpar privada, tipo uma vassoura redonda, quando você faz coco vc deve ter que limpar a privada, pq não tem água pra ele cair, fica sujo eu acho. GRACAS A DEUS tem um outro banheiro na casa, com privada ocidental, é bastante sujo mas da pra sentar. Acho que o banheiro é a coisa que mais me assusta aqui na casa, é o esquisito que eu não consigo lidar. Rolou uma imagem no facebook recentemente mostrando que essa posição de cócoras é a mais saudável pro intestino, minha mãe e minha vó já me contaram diversas vezes que quando elas eram pequenas na roça banheiro era assim, alias era só um buraco na terra. a Karen está na Tailândia pelo que ela conta o banheiro dela é assim também, acho que era para eu estar lidando melhor com essa historia do banheiro, mas ta sendo péssimo. toda vez que eu sinto vontade de ir ao banheiro fico meio tensa e é absurdo pensar que não tem papel, nunca imaginei um lugar onde nao tivesse papel higiênico. Tai uma ideia pra filme futurista, invés de mudar a cidade e colocar meios de transporte voadores, mudar os hábitos das pessoas, hábitos de higiene, hábitos alimentares, mas nos mínimos detalhes. o banheiro que eu uso por exemplo, ele tem uma privada, um chuveiro e um porta sabonete daqueles de parede. não tem box de chuveiro, não tem chuveirinho de privada, não tem porta papel higiênico, não tem bidê, não tem tapete de banheiro, não tem pia (fica do lado de fora no corredor), não tem prateleira nenhuma, nem armário, nem espelho. fazer qualquer coisa no banheiro da muito trabalho, e eu olho esse cômodo todo vazio e me sinto muito pobre, sem infraestrutura, me deixa triste. A casa é toda assim, meu quarto tem uma cama de solteiro e um armário de metal de duas portas. minhas coisas estão no chão, o computador fica no chão ou na cama, eu fico na cama. aos pouquinhos o quarto está ficando com o meu cheio, isso é muito bom, me faz me sentir mais confortável em meio a tanto desconforto.
Acordei hoje com um marimbondo enorme dentro do quarto, cor de terra bem amarelado, cara de picada muito dolorida. Não sabia como falar marimbondo em inglês, não consegui fazer as pessoas que moram comigo entenderem que bicho era. Tai uma coisa pra entrar pra lista de afazeres antes de viajar, descobrir o nome de todas as coisas que você tem medo na língua local, pra vc conseguir avisar as pessoas se a coisa acontecer com você.
eu preciso ficar calma e ter paciência, ou vai melhorar ou eu vou embora, sem pânico, sem problemas, 30 horas e eu to em casa de volta. eu tenho a sensação de que não vai dar pra ficar aqui não. Talvez a historia o ano que sua mãe passou na Índia e voltou iluminada vire a semana que sua mãe passou na Índia e quase morreu, vai se uma historia mais curta pros meus filhos, mas tudo bem.

A privada
                                                                    

O Banheiro
                                                                   

Relendo esse post eu me senti bem apegada aos meus bens, aos meus habitos e a minha própria cultura. A vida aqui não é dos confortos da civilização ocidental, ela é do trabalho e do tempo. Não tenho nenhuma vontade de usar a privada no chão, me parece abominável, mas é esquisito pensar que ela faz melhor pro intestino, é mais higiênica pro corpo, não gasta água limpa e não produz lixo. É foda tb, estar sozinha aqui faz com que eu me apegue muito mais as minhas coisas e aos meus hábitos, talvez se algumx amigx estivesse aqui comigo a gente estaria passando por esse processo juntxs e eu estaria levando isso com mais bom humor e menos pânico. Mas estar tão longe de casa e de forma tão inacessível é bem desesperador.

6 comentários:

  1. Daquí esse banheiro, apesar das particularidades, parece muito arrumadinho.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Acho que a questão da língua, de não conseguir se comunicar, a segurança/mobilidade e essa homogeneidade racial, todo mundo é igual, só vc é diferente deve causar um sentimento de isolamento e estranheza muito grande.
    Mais agora só resta se adaptar da melhor maneira possível.

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  4. Acho que pra marimbondo vc pode dizer "wasp" =)

    Se bem que talvez a melhor expressão fosse D=

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