segunda-feira, 24 de março de 2014

Sobre a chegada


A viagem ontem pra cá foi muito vida L0k4, cheguei em Indore de avião a noite, do lado de fora só tinham homens esperando passageiros, nem uma unica mulher, eu sai e vi uma placa escrito Julia em caneta bic, eram dois meninos, caras novos, olhei pra eles eles cochicharam algo entre si, eu cheguei mais perto, falando alguma coisa tipo hey it's me i'm julia, fiquei com medo deles estarem esperando outra Julia e reli a plaquinha (apesar de ninguém se chamar Julia na Índia), tinha em caneta o nome da escola, Edify School Mandsaur welcomes JULIA, era eu mesmo. Apertei a mão deles, dei a volta no cercadinho, eles pegaram minha mala e saíram andando para o carro, sem hi julia, ou how are you, welcome. Falei qualquer coisa só pra puxar assunto, tentei umas 3 qualquer coisas diferentes, eles sorriam mas não me responderam, achei muito esquisito mas pensei que as vezes tinham sido orientados a não falar comigo, ou a religião deles não permite que eles falem com mulheres, sei lá. Eles colocaram minha mala no porta malas, entrei no carro no banco de trás (NOTA: o carro é como qualquer outro carro no ocidente, mas com mão inglesa, nada mto estranho), eles sentaram no banco da frente, eu atrás e saímos andando noite a dentro. Estava tocando um CD de música indiana bem legal. Meia hora depois, ninguém tinha falado mais nada até então, eles me perguntaram alguma coisa em hindi, tentamos nos entender um pouco, ninguem se entendeu, até que eu percebi que eles nao falavam inglês, e eu nao falava hindi. Ia ser uma viajem de 3 horas no meio da noite no interior da india sem eu ter a possibilidade de fazer qualquer comentário, perguntar qualquer coisa, qualquer uma, nem ta chegando. Me bateu um medo fudido, tentei colocar o cinto mas ele estava preso para trás do banco, olhei pra eles e eles estavam os dois no banco da frente sem cinto, na estrada, de noite, na Índia. Cu na mão. Se eu tivesse mais de um cu todos eles estariam na minha mão.
Apesar do medo fudido a viagem foi muito divertida, a situação toda era tão absurda que eu achei melhor confiar neles cegamente do que me cagar até a morte no banco de trás. Eu não sei se as regras de transito são diferentes na Índia ou se as pessoas só não respeitam as regras, sei que, é uma doidera. Ninguém respeita mão e contra mão, as pessoas desviam umas das outras quando vem alguém na outra direção, e buzinam muito quando vão fazer ultrapassagem. Ultrapassagem é outra questão, esse meu motorista fazia ultrapassagem de caminhão na curva, sem nenhuma visibilidade de porra nenhuma, teve uma curva que enquanto ele fazia ultrapassem de um caminhão, na curva, ele ainda abriu a porta pra cuspir. Com uma mão ele buzinava com a outra ele abria a porta e enfiava a cabeça pra fora pra cuspir. Ganhou meu selo de vida loka em alto risco. Nota: a estrada é inesperadamente sinalizada, com marcas de faixa no chão, placas indicando curvas, pontes, cidades. Paramos 4 vezes ao longo do caminho, em biroscas no meio da estrada. não sei direito pra que, no início ele parecia pedir informação, a ultima vez que ele parou acho que eles foram comer, um deles me trouxe um suco engarrafado de manga, que eu tomei um gole e depois surtei de pavor com a ideia da água ser suja, demoraram uns 15min nesse lugar, eu tomei coragem e sai do carro pra olhar em volta, tinha um senhor bem velho com um turbante laranja lindo, e alguns outros caras. O espaço do lado do bar tinha duas mulheres sentadas no chão, não tinha luz então não dava pra ver direito, mas elas pareciam estar descascando alguma coisa em grade quantidade. Uma delas levantou e não sei de onde veio uma terceira, elas conversaram, uma delas entrou por uma porta e a outra sentou em algo que era uma cama, no meio da rua. Fui ai que eu vi a cama. Tinha um senhor dormindo na cama, uma bola que a  mulher empurrou e a bola se mexeu, uma criança eu acho, ela deitou perto da bola e foi dormir. Muito estranho porque era uma cama mesmo, com pés, não era no chão, e como a outra mulher entrou por um porta, imagino que tenha algum cômodo atras da porta, não consegui pensar porque a cama não estava do lado de dentro da porta. As vezes era tão pequeno que não tinha espaço, ou era mais fresco do lado de fora, não sei. Voltamos para o carro e foi bem bom, ficaram me encarando muito no bar. Nessa ultima parte da viagem eles puxaram muitos assuntos, foi ótimo porque eu comecei a ficar preocupada com ele dormir no volante, já estava muito tarde. Eles me contaram que eram irmãos, perguntaram da onde eu era, me mostraram a casa deles quando estávamos chegando em Mandsaur, a casa do diretor da escola que eu estou indo trabalhar, uma placa de anúncio da escola, e um monte de outras coisas que eu não entendi e ficou por isso mesmo. 
Chegamos na casa por volta de meia noite, é uma casa mesmo, de dois andares. A casa é estranha porque ela é muito grande mas muito precária, tem pouquissima mobilia, é muito suja, a cozinha tem uma pia um fogão e só. Vai chegar uma geladeira, descobri isso depois, na hora a cozinha me deixou muito triste, ela tem um cheio ruim.

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