sábado, 21 de junho de 2014

Rishikesh!




Conheci no ônibus vindo pra cá um casal de húngaros muito muito legais, que tem me feito companhia todos esses dias aqui em Rishikesh. Estamos no mesmo hotel, num quarto um do lado do outro, e temos feito ioga juntos de manhã e de tarde. Esta sendo muito bom, a gente as vezes fica sentado na varanda no hotel conversando até tarde, e ontem jantamos juntos. Estou morrendo de vontade de ir para a Hungria conhecer Budapeste e os lagos que eles me falam. Encontrar o ônibus que vinha de Delhi para Rishikesh foi meio tenso, então foi muito bom ter encontrado eles no ônibus, fez com que a viagem fosse mais tranquila pra mim.

O ponto onde peguei o ônibus em Delhi era um lugar horroroso, não era uma rodoviária, era um ônibus parado numa rua aleatória com um cara sentado no chão vendendo as passagens. O hotel que eu estava em Delhi reservou uma passagem pra mim e eu fui de rickshaw pegar o ônibus as 22h. Chegar lá sozinha a noite nesse lugar ermo foi super desconfortável, e pra piorar, o ônibus que eu devia pegar estava indo pra outra cidade e não para Rishikesh. Não sei o que aconteceu com o ônibus, essas maluquices da India, o ônibus ia para Haridwar, uma cidade conhecida que fica a 25km de Rishkesh. Apesar desse stress, o ônibus tinha uma cara decente e muitas mulheres com crianças dentro, e como encontrei o casal de húngaros resolvi seguir viagem.

apesar dessa 'janela', o ônibus tinha ar
condicionado e as cadeiras eram confortáveis

Chegamos em Haridwar as 6h da manhã, de lá pegamos um ônibus local para Rishikesh, uma hora de viagem pra cumprir os 25km. Chegando em Rishikesh fomos a pé mais uns 3km procurando um ashram pra ficar. Eu tinha dois ashrams em mente, o Parmath Niketan e o Sachcha Dham, chegando aqui descobri que o Sachcha Dham está fechado para férias de verão e o Niketan achamos meio caro. Até vimos alguns outros lugares, mas preferimos ficar num hotel baratinho e fazer as atividades do ashram separadamente. Ashram é como um monastério hindu, em que você tem aulas diárias de ioga, meditação, cânticos e outras atividades. Os ashrams geralmente oferecem acomodação e alimentação 3 vezes ao dia, alguns são pagos mas a maioria funciona por meio de doações. Alguns é só chegar e se inscrever, outros você tem que se registrar com meses de antecedência, outros só pode se registrar quem pretende ficar mais de 10 dias, ou quem já tem bastante prática em ioga. Varia, cada um tem uma regra.

Rishikesh é conhecida como a capital mundial da ioga, a partir de setembro começa a alta temporada aqui, a cidade fica lotada de estrangeiros e gurus. Junho é a baixa temporada (época das monções) e é o período de férias escolares na índia, então a cidade esta bem cheia de indianos que vem praticar rafting no Ganges. É bem curioso que a cidade funciona em duas direções, uma para estrangeiros jovens que vem massivamente procurando por ioga paz e meditação, e outra para indianos em grupos jovens ou em família, que vem procurando por rafting, escaladas, trakkings e até bug jump. A cidade é lotada de companhias de turismo que organizam esses esportes, muitas lojas de suvenir hindu e restaurantes com cardápio em inglês com comida indiana e ocidental. Tem muita oferta de comida chinesa e israelense, chinesa porque a China é uma influência forte aqui, é uma comida fácil de fazer e que agrada estrangeiros, e israelense porque tem muitos turistas israelenses. Três vendedores ja me perguntaram se eu sou de Israel. Os cafés tem também mingau de aveia, café preto e alguns tem até panquecas com maple syrup. A única coisa que não da pra encontrar em Rishikesh é carne e bebida alcóolica, por ser a beira do Ganges a cidade é sagrada, então essas coisas não entram aqui. Tem também um grupo grande de turistas russos e japoneses, tem até aulas de ioga em japonês. Acho muito legal perceber quem são os turistas que frequentam aqui a partir dos serviços que a cidade oferece, então tenho prestado bastante atenção nisso.

A cidade é muito bonita, ela se organiza em torno do rio, então da pra ver o Ganges de quase todos os pontos da cidade. Muitos indianos tomam banho no rio, as margens são cheias de jovens mergulhando, famílias se divertindo ou se benzendo, e senhoras lavando roupa, é interessantíssimo de observar.




 A cidade tem também muitos sadhus, que são aqueles homens sagrados que vestem uma saia laranja e não cortam o cabelo, e vivem sua vida inteiramente dedicada a religião.  A maioria parece muito pobre e geralmente esta pedindo dinheiro na rua. Tem também estrangeiros que vivem aqui a mais tempo e levam sua vida um pouco como os sadhus, ainda não consegui conversar com nenhum então são só suposições, mas tem dois homens ocidentais diferentes que eu vejo na rua que se vestem como os sadhus e parecem iluminados, os vendedores não tentam vender coisas pra eles nem os indianos pedem pra tirar fotos com eles, o que me diz que eles estão aqui a mais tempo e em outra história. A cidade tem muito comércio e lojas de suvenir que vendem roupas ripongas, jóias, incensos e estatuário religioso. As roupas hippies só quem compra são os estrangeiros, mas jóias e coisas religiosas os indianos consomem também.

A rotina aqui tem sido muito tranquila e eu tenho me sentido muito bem, hoje por exemplo acordei e fiz uma aula de meditação e pranayama, que são exercícios de respiração, depois fiz uma hora de ioga incrível. Estou a 3 dias fazendo ioga diariamente e já estou percebendo a diferença de 3 dias atrás pra hoje. Hoje consegui pela primeira vez fazer a saudação ao sol completa, sem cair ou esquecer os movimentos no meio, foi muito bom, estou me sentindo mais forte. Ioga trabalha força muscular e flexibilidade, são duas qualidades que dá vontade de melhorar em si, é muito legal. Lembro que quando eu fazia academia no Rio achava muito chato sentar naquelas maquinas, não me dava vontade de conseguir carregar mais peso, ou andar mais rápido na esteira. Mas com a ioga tem sido diferente, tenho muita vontade de conseguir fazer todas aquelas posições, se aguentar de cabeça pra baixo com uma mão só etc, encontrei professores fantásticos, com um corpo tão elástico, tão consciente, é o tipo de corpo que eu quero ter.   

Ontem foi um dia especialmente incrível, acordei, fui na ioga, tomei café da manhã apenas com frutas ( as mangas e bananas indianas são demais), fiz uma hora de caminhada com o casal de húngaros e com um amigo italiano que conheci aqui até uma cachoeira pequenininha que deu pra entrar na água, voltei da cachoeira e fui fazer massagem, almocei chowmein, um noodle tibetano que tem por aqui (lembra yakissoba), depois fui pra outra aula de ioga em uma escola diferente, 2 horas de aula. Quando acabou vi a cerimonia de agradecimento ao rio (aarti) e depois jantei com os amigos, só legumes crus, foi um dia muito bom.

Além das agências de turismo, cafés e lojinhas, aqui tem varias casas de massagem. Na segunda fiz massagem ayuvedica, é uma hora de massagem por 500 rupias ( 20 reais), a moça massageia todo o seu corpo, pés mãos couro cabeludo costas pescoço tudo com óleo, é demais. Ontem fiz uma massagem chamada Shirodara, você fica deitada uma hora de olhos vendados com um óleo morno escorrendo pela sua testa, que vai entrando pelos cabelos. É bem gosmento e mais caro, ainda estou pensando se valeu a pena, mas a  sensação de relaxamento na área dos olhos é demais, sai do lugar com a sensação de que antes daquela massagem eu tinha as sobrancelhas tensionadas do Jack Nichelson.

Tem sido bom e calmo ficar aqui, Rishikesh é uma cidade que da vontade de ficar bem mais tempo.

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