Tenho
me sentido em Dogville aqui em Mandsaur. Estou tentando trocar de um trabalho
para o outro a mais de um mês, tem sido um pesadelo desde então. As pessoas
parecem querer te ajudar mas na verdade abusam de você e estão te enganando, e
é impossível sair. Me sinto no Anjo Exterminador também, as pessoas que tentam
sair da casa e não conseguem.
A escola que eu vim trabalhar dando aula de inglês não existe, está em construção, estou aqui desde março fazendo absolutamente nada. Desde abril estou tentando sair da escola e ir para outro
trabalho, mas a escola não me libera, apesar de nós não termos mais contrato.
Estou num buraco, pela Aiesec não tenho mais contrato, mas meus documentos
legais estão associados a escola, e com isso ela tem poder de me manter aqui,
ou então estou ilegal na India. Recebi os e-mails mais absurdos e ofensivos
essa semana. Preciso de um documento chamado NOC - Non Objection Certificate, é um documento da policia que afirma que a escola não tem problemas em eu ir embora. Esse documento precisa ser entregue na policia junto com uma carta convite da
outra empresa que eu estou indo trabalhar. A escola se recusa a me dar esse documento, não entende que não
temos contrato. Nunca esperei passar por essa situação, estou tão frustrada e
decepcionada e triste e insegura, esperava chegar aqui, trabalhar, curtir a
India e ir embora, mas desde de que cheguei estou em uma espiral de loucura e
falta de comunicação entre as pessoas.
Estou
em uma cidade que funciona sem lei, a família do diretor tem dinheiro e
contatos, e tudo é resolvido assim. Não passei por nenhum procedimento legal
desde que cheguei aqui, tudo foi burlado, a policia veio até o escritório pegar
minha assinatura e acabou, toda a burocracia legal foi burlada. E agora me
encontro nessa situação, em que preciso de aparato legal para conseguir sair
daqui em segurança e não tenho. É desesperador. Fico pensando em quantas
cidades no Brasil e no mundo funcionam assim, e quantas pessoas vivem sobre a
aba do coronelismo, totalmente desprotegidos e sem acesso ao aparato legal.
Tenho
me comunicado diariamente com a embaixada do Brasil em Delhi e com o FRRO,
setor da policia que cuida de estangeiros. Aqui em Mandsaur a policia é
associada ao diretor então não dá pra contar com eles, por isso tenho ligado
pra policia em Delhi. O serviço deles é péssimo, já desligaram na minha cara
duas vezes, não tem a menor intenção de resolver problemas, não sabem ouvir, me
dizem, Traga os seus documentos aqui que a gente resolve, e eu falo Mas eu não
estou em Delhi, e eles desligam antes de me ouvir. A policia em todo o mundo
parece uma coisa homogênea, corrupta e mal treinada.
A
boa noticia é que não corro perigo físico, a escola não tem nenhuma intenção de
me machucar porque seria pior pra eles me perder. Quanto mais eu fico aqui,
mais alunos a escola atrai, então minha integridade fisica está garantida.
Estou
com o mais profundo ódio da AIESEC, é a instituição mais irresponsável que eu
ja conheci, como pode colocar alguém em uma situação como essa? Meu direito de
ir e vir está vetado e eu estou em perigo, a AIESEC não tem a menor ideia de
com quem se associa, é uma empresa presente em 130 paises sem nenhuma ideia de
como funcionam esses países, e em que tipo de problema as pessoas podem se
meter, nem nenhuma ideia de como resolver esses problemas.
Eu
preciso descobrir agora como sair de Mandsaur e chegar em Delhi legalmente, e
se existe algum tipo de reclamação formal que eu possa fazer no FRRO contra a
escola. Qualquer reclamação que eu fizer aqui eu saio perdendo porque o diretor
tem contatos na policia, mas eu tenho que pelo menos abrir esse espaço, para que
caso eu seja deportada, eu possa entrar com um pedido de reconquistar o visto,
ou algo assim. Conseguir informação aqui é algo que beira o impossível, ninguém
sabe me informar nada, tenho passado o dia nos sites da policia e do visto, mas
é tanta burocracia e confusão, fica muito difícil de entender. Precisa ter algum documento como o FIR mas que
eu faça contra a escola, pra eu não sair prejudicada e perder meu visto.
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